domingo, 18 de agosto de 2013

OS MÚSICOS DE BREMEN



Comecei a contar esta história faz pouco mais de um mês e a cada vez que conto, ela se torna mais divertida!

A primeira vez que contei foi na Biblioteca de São Paulo - sucesso total! As crianças se tornaram os personagens da história e na hora da cantoria o público todo soltou a voz.

Resolvi colocá-la no repertório de minhas apresentações de agosto no Projeto Encontros do Metrô de São Paulo, nas estações Paraíso e Corínthians-Itaquera e o resultado não foi diferente. Neste caso, os personagens foram todos adultos que, como as crianças, se divertiram bastante, relinchando, latindo, miando ou cantando.


A Cláudia Romano foi a gata da história em uma das apresentações e, para minha alegria, ela enviou um pequeno relato dessa sua experiência (estação Paraíso do metrô no dia 07/08, 13h).

"Olá Rosita, hoje você me fez ser uma gata bem manhosa e velha..rsrsr na hora do meu almoço, e olha que nem cheguei atrasada na minha aula cheguei na pinta da hora. foi maravilhoso o que vc fez linda história e forma de conta-lá. Obrigado pela felicidade que me deu sem eu pedir assim de graça. "Belezura" Cláudia Romano

Quer se divertir também? Junte-se com três ou quatro amigos e brinque com essa deliciosa história.

Os músicos de Bremen


Era uma vez, um fazendeiro que tinha um burro muito prestativo e fiel. Esse burro sempre serviu muito o fazendeiro. Levava em seu lombo todo o trigo colhido na lavoura até o moinho e saía do moinho com pesados sacos de farinha que levava até o mercado da cidade. O burro fez esse serviço todo durante muitos e muitos anos e muito bem. Só que os anos passados foram sendo sentidos em seus ossos e músculos e o burrinho, no momento desta passagem, não conseguia mais realizar todos esses trabalhos com a mesma agilidade de antes.

O fazendeiro, por causa disso, tinha planos de mandá-lo embora pra bem longe e pra sempre. O velho burro descobriu os planos do fazendeiro e ficou muito triste por ter a sua lealdade paga com tamanha ingratidão. Ele não queria ir embora, nem pra bem longe e nem pra sempre. Mas, não tinha a menor ideia de como sair desta situação. Na verdade, o burro acreditava que o fazendeiro queria era matá-lo.

Então, bem a noitinha, o burro deitou-se de barriga pra cima, no pasto verdinho e ficou olhando para o céu. Lá no alto a lua brilhava bonita e grandona. Era lua cheia. O burro fechou os olhos e falou com a lua:

- Preciso achar uma solução. Oh lua que está tão brilhante e grande no céu me ajude a achar uma saída. E assim que o burro abriu os olhos, já sabia exatamente o que fazer.

Iria fugir para Bremen e se tornar músico. Assim como ele pensou, assim ele fez. Saltou a cerca dos arredores do pasto com uma alegria e um vigor que há muito tinha perdido e se viu do outro lado, na estrada, completamente livre, leve e solto.Estava tão feliz o burro, que começou a cantar:

"Eu vou, eu vou, pra Bremen agora eu vou, lálálálá...eu vou, eu vou"

E foi mesmo seguindo na estrada em direção à Bremen. Ele andou, andou e bem lá adiante viu algo na beira da estrada. Chegou mais perto e viu que era um cachorro muito velho e muito triste e então ele perguntou:

- Por que está tão triste, velho cachorro?

E o cachorro respondeu que não conseguia mais vigiar o rebanho de seu dono como fazia quando era jovem e cheio de energia e, por isso, ele seria levado embora pra bem longe e pra sempre.

-O mesmo aconteceu comigo e decidi fugir pra Bremen e me tornar músico. Quer ir comigo? Perguntou o burro.

- Ah! Que maravilha, respondeu o cachorro. É claro que eu aceito.

E quem quer que passasse na estrada rumo à Bremen ouviria um velho burro seguido por um velho cachorro, cantando assim:

"Eu vou, eu vou, pra Bremen agora eu vou, lálálálá...eu vou, eu vou"

Os dois andaram, andaram e depois de muito andar avistaram alguma coisa bem perto de um matagal. Era uma velha gata, muito velha e muito triste. O burro quando chegou bem perto dela, perguntou:

- Por que está tão triste, velha gata?

Ah! Adivinhem o que ela lhe respondeu? Tinha sido abandonada pelo seu dono que não a queria mais só porque ela não conseguia mais caçar os ratos da casa. O dono dela queria levá-la embora pra bem longe e pra sempre. Exatamente como tinha acontecido com o nosso burro da história.

-O mesmo aconteceu conosco, porém decidimos fugir pra Bremen. Quer vir também?

A gata aceitou na hora e na estrada agora, havia um velho burro, seguido por um velho cachorro, seguido por uma velha gata e os três alegres, a cantar:

"Eu vou, eu vou, pra Bremen agora eu vou, lálálálá...eu vou, eu vou"

Os animais andaram, andaram e depois de muito andar avistaram alguma coisa ciscando lá adiante. Era um velho galo. Muito velho e muito triste.

- Por que está tão triste, velho galo? Foi logo perguntando o burro.

E a resposta foi a mesminha dos outros animais:

- Meu dono quer me mandar pra bem longe e pra sempre. Eu não consigo mais acordar cedinho e acordá-lo com meu canto. Estou muito velho e cansado.

O burro lhe disse que tanto ele, quanto o cachorro e também a gata, tinham sofrido de tamanha ingratidão porém, estavam decididos a mudar o destino de suas vidas fugindo para Bremen onde pretendiam se tornar músicos. O burro convidou o velho galo para acompanhá-los.

E a resposta, acho que você já pode adivinhar, não é?

O velho galo aceitou na hora, sem delongas. E os quatro animais seguiam felizes a cantar pela estrada que realizaria seu sonho de vida nova e boa:

"Eu vou, eu vou, pra Bremen agora eu vou, lálálálá...eu vou, eu vou"

E os quatro animais recém amigos andaram, andaram, andaram e foram ficando cansados e com  fome. Foi aí que decidiram encontrar algum bom lugar para descansar (comida era difícil de encontrar).

E então eles andaram e andaram mais um pouco e encontraram um lugar que parecia bom e até certo ponto aconchegante: um lindo e exuberante carvalho, muito alto e com uma copa bem bonita. Cada um dos bichos foi logo buscando um lugarzinho aprazível. O burro juntou umas folhas secas, as arrumou e logo se deitou. O cachorro se enrolou todo e encostou o corpo no tronco da árvore. A gata, manhosa e sabida, se encostou no cão. E o galo como vocês já podem imaginar, se empoleirou num tronco bem lá no alto.

A noite estava bem bonita.

Passado algum tempo, o cachorro já roncava e a gata ronronava, o galo cantou lá de cima e seus amigos acordaram.

- Vejo uma luzinha bem adiante. Parece uma casa ou algo assim. O que acham, meus amigos, de seguirmos até lá? Quem sabe encontramos alguma comida e água? disse o galo.

Os animais pensaram que poderia ser uma boa ideia e decidiram caminhar mais um pouco, em direção àquela luz.

Andaram e logo chegaram ao lugar. Era mesmo uma casinha de madeira e pequenina. Ouviram uns ruídos vindo de dentro e, por um pequeno buraco da madeira o burro olhou dentro. E o que ele viu foi de alegrar todo mundo. O burro notou que na sala havia uma mesa repleta de comida e bebida. Porém, viu também sete ladrões que sentados ao redor da mesa, para tristeza de todo mundo.

No mesmo instante, o burro olhou para o céu e a lua brilhava linda, redonda e grandona. Ele fechou os olhos e  mesmo em oração e pediu:

Oh lua, você que brilha tão grande no céu, me me ajude a achar uma saída. E assim que o burro abriu os olhos, já sabia exatamente o que fazer.

-Tenho um plano - ele disse.

O burro ficou de pé, com as patas dianteiras apoiadas no parapeito da janela e falou:

- Cachorro, suba nas minhas costas! Gata, suba nas costas do cachorro. Galo, suba nas costas da gata e, quando eu der um sinal, vamos todos começar a fazer música com muita força.

Feito isso, estavam todos prontos para entrar em ação. O burro deu o sinal e a música começou bem forte.

O velho burro urrava com toda a sua força, o velho cachorro latia bem alto, a velha gata miava muito e o velho galo cantava bem alto. Fizeram tamanho barulho que as vidraças tremeram até se estilhaçar em muitos pedaços. O galo voo para dentro da casa e começo a bicar os ladrões. Foi seguido pela gata que distribuiu unhadas. Depois veio o cachorro mordendo quem encontrasse, e por último o burro entrou aos trambolhões e começou uma sessão de coices. Era um salve-se quem puder. Dentro da casa a luz estava fraca e, na penumbra não dava para ver nada direito. Com aquele barulho todo provocado pelos animais, os ladrões se assustaram e acreditaram que um grande monstro estava querendo pegá-los. Os sete ladrões foram saindo, apavorados da casa, derrubando tudo que encontravam pela frente e fugiram pela floresta afora. Nunca mais voltaram.

O burro e seus amigos comeram e beberam até não mais poder. E quando terminaram estavam bem satisfeito e puseram-se a buscar um bom lugar para tirar uma soneca.

O burro se acomodou em cima de um monte de palha, a gata se enrolou perto da lareira, o cachorro ficou em um tapete perto da porta e o galo se empoleirou numa viga do teto.

No dia seguinte, eles acordaram descansados e alegres. Admiraram a vista linda que tinha o lugar e decidiram morar lá para sempre. Todos os dias pela manhã, bem cedinho, os quatro amigos caminhavam até Bremen que não ficava muito longe dali, não. Caminhavam alegres a cantar:

"Eu vou, eu vou, pra Bremen agora eu vou, lálálálá...eu vou, eu vou"

E assim fizeram por muito tempo. Estudaram muito e se tornaram músicos talentosos e famosos.

Ah! E antes que eu me esqueça de dizer, na cidade de Bremen, na Alemanha, o prefeito mandou fazer uma estátua bem bonita representando os quatro animais: um burro e em suas costas um cachorro, e nas costas deste uma gata e nas costas dela, um galo. Foi uma maneira de homenagear os quatro velhos animais que conseguiram fugir da morte e, caminhando pelo mundo afora, encontraram uma nova vida de alegria, amizade e muita música.

Recontado em versão livre por mim, Rosita Flores.

Versão conhecida pelos Contos dos Irmãos Grimm

Recomendo a versão encontrada no livro Contos de Animais do mundo todo, Naomi Adler. Com belíssimas ilustrações de Amanda Hall. Editora Martins Fontes, São Paulo, 2007.