quinta-feira, 23 de maio de 2013

Entre Contos, Brincadeiras e Peripécias do Boi Bumbá e outras histórias

Feira do Livro, Biblioteca de São Paulo e Virada Cultural na Casa das Rosas


"No fio das histórias, como no fio da vida, cada um tece o seu tapete..."
em A palavra do contador de histórias
Gislayne Avelar de Mato pág 17

A semana que passou foi bastante agitada para mim. Na segunda-feira contei histórias para os pequenos de idade entre dois e oito anos, do Colégio Maria Imaculada, na Feira de Livros. Desde a semana anterior eu estava entre os preparativos: escolhendo as histórias, os possíveis recursos e tudo o mais.



   Foto 1. Catirina buchuda - crédito da foto Casa das Rosas
A partir da terça-feira, o meu envolvimento total foi com as apresentações que seriam no final de semana da Virada Cultural. Aliás, toda a pesquisa de histórias, versões, recursos, elementos, cantigas, começou bem antes - mais de um mês de antecedência. Mas, a última semana foi essencial para desatar alguns nós que teimavam e também para fazer os ajustes que faltavam. Até ensaio na rua fizemos. Foi bom ver a reação das pessoas que observavam nas varandas, portões e janelas.

Na sexta-feira após o ensaio que terminou por volta das quatro da tarde (começamos às onze horas) fui levar o Boi para a Casa das Rosas para a apresentação de domingo.

No sábado fomos contar histórias na Biblioteca de São Paulo e foi muito especial! Contei as histórias de autores alemães. Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela, A grande questão e O pato, a morte e a tulipa. Foi bem gostosa a interação que surgiu. Os livros ora abriam espaços para comentários, olhares e indagações de fora. Ora serviam como preenchimentos para as interrogações e emoções de dentro.

Aos poucos o público foi se tornando uno. Dava para notar os olhares e expressões que contagiava os presentes. O livro com toda sua magia - ilustrações, beleza de formato, textura, etc -  foi o substrato para a germinação da teia simbólica onde as sensações, os sentimentos, as emoções e a oralidade se estabeleceram e foram sendo construídos com a e pela narrativa.

Cheguei em casa exausta. Porém, o trabalho ainda não tinha terminado. Aproveitei para tirar um cochilo breve e depois fui terminar de organizar tudo para o dia seguinte: apresentação de Entre Contos, Brincadeiras e Peripécias do Boi Bumbá na Casa das Rosas. Lá pelas tantas pude "pregar o olho" e descansar com alegria e expectativa.

                                                                                           Foto 2. As crianças ajudando  o Boi Pintadinho
                                                                                                                          Crédito da foto: Ana Lu Sanches

O domingo começou cedo. Banho e mama para o Joca. Banho e café da manhã e partimos para a Casa das Rosas. Antes, passei na casa de minha mãe que ficou com o pequeno durante todo o tempo. Santa Mãe, grata por tudo sempre.

Ajustes de som, microfones, figurino, exercícios vocais, passagens das músicas: Ufa! Começa logo - era o que eu pensava. E começou! Às 14:30h com uma platéia linda, dia com um sol suave na pele, jardim verde exuberante da Casa das Rosas, e nós chegamos com o boizinho.

A cantiga de chegança começava: " Chegô , chegô, chegô levantando poeira. As moça  baterô  palma quando viram a brincadeira. Inté panharam rosa oi, no gaio da roseira"

Pétalas de rosas dançavam no ar enquanto colhíamos sorrisos. O Boi que foi brincado e gingado pelo Hélio Francisco seguia encantando as crianças, enquanto a sanfona do Ítalo Magno e a zabumba do Giba Santana lançavam a sonoridade que envolveu a todos numa brincadeira e dança únicas.



                                Foto 3. Boi Pintadinho (Hélio Francisco): Giba Santana, Rosita Flores e Ítalo Magno
                                Crédito da foto: Ana Lu Sanches


AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: AO GRUPO BEIJA FULÔ DO QUAL TENHO A HONRA DE FAZER PARTE  POR TER GENTILMENTE CEDIDO O BOIZINHO ; À TODO PESSOAL DA CASA DAS ROSAS (PRODUÇÃO, ORGANIZAÇÃO, E EM ESPECIAL À CAMILA FELTRE E CAROL); AOS MEUS PAIS; AO MEU PEQUENO JOCA QUE É TÃO COMPREENSIVO NAS MINHAS AUSÊNCIAS; À ANA LU SANCHES PELOS CLICS INCRÍVEIS; AOS CHAPÉUS EMPRESTADOS DO GRUPO CORDÃO DA TERRA, AOS AMIGOS E TODOS OS PRESENTES QUE SE DIVERTIRAM COM A GENTE E FIZERAM A TARDE DE DOMINGO FICAR TÃO GOSTOSA. AO ÍTALO E HÉLIO POR TEREM PARTICIPADO DESTA HISTÓRIA COM O DUO ENCANTADO.


Abraços de alegria

Rosita Flores












O desenho daquele menino



"O importante não é a casa onde moramos. 
Mas onde em nós, a casa mora."
Avô Mariano (do livro Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra de Mia Couto, Ed. Cia das Letras)

No sábado contei histórias na Biblioteca de São Paulo e foi muito especial!

Eu me diverti com as crianças que estavam muito atentas e participativas. Senti muita receptividade e cumplicidade entre os presentes.
Ao final, no momento em que eu já estava guardando minhas coisas, veio um menino até mim e mostrou um desenho. Ele disse: "Olha o desenho que eu fiz, tia."



No desenho dele tinha um sol entre nuvens, um homem e uma mulher com mãos que quase se tocavam.

Eu elogiei o desenho e perguntei quem eram aquelas pessoas. O menino respondeu: "Meu pai e minha mãe."
Eu perguntei se os pais estavam com ele e então, o garoto disse que só o pai, a mãe não morava ali.

Ficamos conversando por um tempo e eu quis saber porque ele próprio não estava no desenho e a resposta foi, com olhos baixos e voz triste: "Ah! Eu esqueci...Tem também meu irmão que eu esqueci".

Ele tinha feito o desenho para dar de presente ao pai.
Perguntei se ele não queria se desenhar ali e o irmão também, e ele disse que o faria. Pegou o desenho decidido e se foi.

Eu também fui. Levei minhas coisas até o camarim, troquei de roupa, bebi água e quando já estava indo embora, senti um aperto no coração, uma vontade de voltar para ver o desenho daquele menino.Como se eu precisasse disso para sentir que não o havia abandonado (ou me abandonado?).

Entrei novamente na biblioteca e o procurei. Meus olhos o encontraram desenhando. Ele estava sentado numa pequena mesa junto com outras crianças que também desenhavam. Quando chamei por ele que me olhou com olhos brilhantes. Bem, assim foi que eu percebi ou talvez tenham sido os meus olhos que brilharam para ele - nele - com ele.

Ele já havia entregado o desenho ao pai. Pedi para ver e ele foi me guiando pelo corredor da biblioteca até onde se achava seu pai. O corredor era estreito e pequeno. No caminho ficamos lado a lado sem dizer palavra, só expectativa.
Chegamos.  O pai usava um computador da biblioteca e foi logo se desculpando, porque o filho é que tinha que usar.  Porém, o pai se acalmou quando percebeu que eu tinha ido até lá para ver o desenho do menino.

O pai puxou aquele papel sulfite e retirou-o debaixo de algo. Eu não prestei atenção no "algo". Eu queria ver o desenho. Agora eu tinha o desenho do menino nas mãos: um sol entre nuvens, um homem e uma mulher de mãos que quase se tocavam e dois meninos no canto direito. Os irmãos estavam num canto bem separados dos pais. Entretanto, muito próximos um do outro, naquele canto à direita do papel sulfite quase se fundiam num único menino.

Fiquei ali sem saber o que silenciar ou o que pronunciar. As palavras escorreram pelo chão, se esconderam nos livros daquela biblioteca, se trancaram em pensamentos. E porque eu não tinha mais palavra alguma, fiquei ali olhando o desenho, o pai estava em pé, mãos nos bolsos, querendo que aquela situação acabasse. Sorria amarelado e sem graça.

Eu me despedi do pai olhando para o desenho do menino, para o menino que eu via no desenho e para a lembrança que eu tinha do menino.

Naquela tarde eu contei histórias de Wolf Erlbruch, duas delas foram: A grande questão e O pato, a morte e a tulipa.

Contar histórias é entrar em contato com o íntimo das pessoas. Por isso é tão transformador e profundamente perturbador.


Rosita Flores

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Dica de Leitura - Metamorfose por Completude




A Ficção Científica como Encontro de Perspectivas


Criar mundos, estruturar contextos, tecnologias, civilizações, comportamentos, ambientes e tudo mais que combinações multidisciplinares habilitam imaginar é um prazeroso exercício de ideação, ainda mais quando ficamos cientes de que essa capacidade de transitar entre diversas áreas do conhecimento e da cultura elaborando cenários sem fim, é um dos elos comuns que nos une a todas as pessoas pelo mundo.  
A história de “Metamorfose por Completude”, uma Ficção Científica, foi escrita tendo sempre em mente a perspectiva de solo comum da humanidade: um único movimento criativo e sem fronteiras, e por isso mesmo de espantosa variedade e ritmos.
Com isso em mente, procurei elementos que pudessem nos fazer ver com mais clareza a necessidade e a urgência de adquirir perspectivas tão amplas quanto abrangentes.   E percebi nesse processo que uma sensibilização dos nossos sentidos e de nossos conceitos pode muito bem desvendar um panorama mais rico de possibilidades que talvez permaneçam unicamente como tal por falta de apreciação e de investigação.
            Desenvolvi então essa história intercalando perspectivas diversas da Física, da Arte, das Teorias da Complexidade e dos Estudos da Consciência, colocando na fala dos personagens um discurso declaradamente não-dualista e de livre-trânsito-entre-temas, discurso este que se desdobra e se estende ao longo da trama nas descrições das composições arquitetônicas dos ambientes das naves alienígenas e dos planetas visitados. E que almeja se estender e incluir o leitor instigando seu imaginário e evocando nele, por uma ressonância de qualidades, uma sensação-percepção-concepção da completude das relações existentes na tecitura infindável desse belíssimo planeta em que vivemos como uma só humanidade - veja também as referências que deram origem à história em:


Panorâmica

“Metamorfose por Completude” é a fascinante história de um primeiro contato da humanidade com alienígenas não-antropóides, que encontram a Terra devido a uma consonância que estabelecem com a condição peculiar na qual nosso planeta se encontra, denominada por eles de “limiar”, condição esta de abertura a inúmeras possibilidades sistêmicas e prenúncio de uma grande transformação.  
Enviando para a humanidade uma miríade de releituras-em-rede-complexa de toda a cultura humana - inúmeras discussões teóricas e soluções práticas para vários problemas enfrentados pela humanidade - os alienígenas propõem um intenso intercâmbio, mas somente se cumprida uma inusitada condição: toda a pobreza deve ser eliminada e todos os problemas ecológicos devem ser resolvidos, tudo num prazo de dois anos e com recursos próprios (da humanidade e do planeta).
A partir desse primeiro contato a história se desenrola em uma viagem a estranhos mundos e a ambientes extraterrestres exuberantes, proposta pelos alienígenas para alguns humanos, recheada de discussões acaloradas sobre a compreensão da relevância das dinâmicas coletivas, e sobre o imperativo que se faz à humanidade a aquisição de uma perspectiva mais abrangente da natureza, da consciência e da cultura.
Postura esta permanentemente adotada pelos alienígenas no decorrer da trama, cuja visão de mundo e perspectiva civilizatória amadurecida por eles ao longo de sua própria história se desdobrou na capacidade de estabelecer uma simbiose multifacetada com seu planeta natal e com suas naves, a ponto de poderem através dessa sintonia, acessar dimensões qualitativamente diferentes da do espaço-tempo comum.
Incitando o imaginário, exercitando um pensar-e-sentir-além-das-fronteiras, a envolvente e instigante história de “Metamorfose por Completude” chama a atenção para a possibilidade de existência de relações-de-conjunto mais abrangentes e profundas do que aquelas comumente consideradas e, do ponto de vista do autor, sutilmente espalhadas na exuberante rede multidimensional estabelecida pela cultura humana.



            O Autor

Carlos Antonio Ragazzo é Físico formado pela UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e um entusiasta da Divulgação Científica. Iniciou-se na Arte com o SenseiMassaoOkinaka da pintura Sumi-ê em 1993. A partir daí aventurou-se no acrílico sobre tela e atualmente dedica-se à Arte Gráfica. Passou a estudar e a praticar Meditação em1988 e segue dedicando-se ao tema e à pratica diária (Zazen) até hoje.
 Este livro é o resultado de sua tentativa de encontrar pontos comuns entre áreas da experiência humana distanciadas por uma visão fragmentada do mundo. A imagem que ilustra a capa desse livro também é de sua autoria e igualmente resultado dessa busca.


Boa leitura!

abraços

Rosita