domingo, 1 de março de 2015

Uma bonita história sobre a tristeza

"A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste, o 

melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo; de modo que a 

dor ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo. 

Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos, 
porque iria fazer com que chorassem, também não era bom deixar 

entrar a tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer 

coisas que não eram verdadeiras, que também não se metesse nas mãos 

porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa. 
Porque a tristeza gosta do sabor amargo.
Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o 

cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto 

quando o vento do norte sopre com força. O nosso cabelo é uma rede 

capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e 

suave como a espuma do atole.
Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda que tenhas o coração 
despedaçado ou os ossos frios com alguma ausência. Não deixes que a 

tristeza entre em ti com o teu cabelo solto, porque ela irá fluir 

em cascata através dos canais que a lua traçou no teu corpo. Trança 

a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua tristeza.
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a 

tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…"
Registo da antropóloga Paola Klug, Fotografia tirada na Nicarágua 

por Candelaria Rivera, do ensaio fotográfico: "Amor de Campo"


Nenhum comentário :

Postar um comentário