terça-feira, 22 de novembro de 2011

Alimentar com língua

Essa história eu ouvi no Simpósio Internacional de Contadores de Histórias (09-13/11/2011) com a Rosana Mont' Alverne durante sua oficina a Arte de Memorizar e Contar. Foi um momento divertidíssimo e eu me apaixonei pela história na mesma hora. Espero que vocês também gostem. Ótima leitura e... vamos todos  alimentar pessoas com língua e nos deixar ser alimentados com língua!

Aproveito para convidá-los ao desafio de deixar um comentário sobre o assunto, após lerem a história.

Um sultão vivia com a mulher no seu palácio, mas a mulher era infeliz. Ela ficava cada dia mais magra e mais apática. Na mesma cidade havia um homem cuja mulher era saudável, bem nutrida e feliz. Quando o sultão ouviu isso, chamou o homem pobre à corte e lhe perguntou qual era o seu segredo. O homem pobre disse: “Muito simples. Eu a alimento com língua”. O sultão mandou chamar o açougueiro imediatamente e lhe disse que as línguas de todos os animais abatidos na cidade deviam ser vendidas a ele, o sultão, e a mais ninguém. O açougueiro fez uma mesura e foi embora. Todo dia ele enviava ao palácio as línguas de todos os animais. O sultão ordenou que o seu cozinheiro as cozinhasse, fritasse, assasse e salgasse de todas as maneiras possíveis, e que preparasse cada um dos pratos do livro de receitas. A rainha tinha que comê-los, três ou quatro vezes por dia – mas a coisa não funcionou. Ela ficava cada vez mais magra e mais adoentada. O sultão ordenou ao homem pobre que trocasse sua esposa pela dele – e o homem concordou com certa relutância. Ele levou a rainha magra para casa e enviou a sua esposa para o palácio. Infelizmente, a esposa do homem pobre foi ficando cada dia mais magra, apesar da boa comida que o sultão lhe oferecia. Era evidente que ela não podia ficar bem num palácio.
Ao chegar em casa a noite, o homem pobre saudava sua nova (real) esposa, contava-lhe o que tinha visto, principalmente as coisas engraçadas, depois lhe contava histórias que a faziam se torcer de rir. Em seguida pegava o banjo e cantava para ela, ele conhecia diversas canções. Ele ficava acordado até tarde da noite, brincava com ela e se divertia. E então pronto! A rainha ganhou peso em poucas semanas, ficou com ótimo aspecto, a pele brilhante e lisa como a de uma menina. E ela passava o dia sorrindo, lembrando-se das coisas engraçadas que o seu novo marido lhe contara. Quando o sultão mandou que ela voltasse, ela se recusou a ir. Então o sultão foi buscá-la e a encontrou muito mudada e feliz. E lhe perguntou o que o homem pobre fizera com ela, e a rainha lhe contou. Então ele entendeu o significado de alimentar com língua.

9 comentários :

  1. Rosita,

    Que história linda! Que todos nós possamos nos alimentar da língua!

    Abraços saudosos,
    Elaine Cunha
    www.caminhandocontando.com

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  2. Parabéns, Rosita! Esse é o espírito das narrativas orais: contar e recontar, sempre. É bom lembrar que essa versão é da Angela Carter, registrada no livro "103 Contos de Fadas", Ed. Companhia das Letras. Existem outras versões publicadas no Brasil, como a do escritor Ilan Brenman, por exemplo. Beijo e BOA SORTE! Rosana Mont'Alverne - www.aletria.com.br

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  3. Grata querida Rosana por dar os créditos. Eu ainda estou também entorpecida com a história que cometi este lapso. Um grande abraço, beijos

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  4. Rosita cheia-de-flores, amei seu post, a história, e seu espírito de luz compartilhando-a com todos!!! Muita carne de língua para todos os contadores...

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  5. Que história linda!
    Este é a verdadeira forma de alimentar a alma, que reflete no corpo aquilo que recebe.
    Adorei a história.
    Beijos beijos

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  6. Ah, adoro essa história, minha querida, você que nos alimenta com o seu talento, sus histórias e sua alegria. obrigada.

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  7. Minhas queridas, muito grata pelas palavras! Espero a próxima visita. beijos

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  8. Ouvir voce contar essa historia ontem no Metro Itaquera foi o alimento que minha alma cansada precisava e entao conversar com voce por alguns minutinhos e entender porque pela primeira vez me encantei com a historia da "Princesa e a ervilha", me fez dormir pela primeira vez em um mes, desde que regressei do meu "exilio" procurando algo que nao encontrei. Obrigada por fazer meus olhos brilharem...
    Espero encontra-la mais vezes.

    Abracos

    Florimari

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  9. Florimari, nome de flor, palavras perfumadas e coloridas! Muito grata pela sua presença e pela conversa naquele dia no metrô. Eu gosto muito, de verdade, do espaço do Projeto Encontros para contação de histórias porque é democrático e tão necessário, tão transformador.

    Fiquei muito feliz por ter sido o veículo pelo qual as histórias puderam transformar o seu momento de vida. Amo o que faço e suas palavras me deram ainda mais estímulo, confiança e alegria para continuar neste caminho de aprendizado que não tem fim. Um grande e afetuoso abraço. Beijos e desejos de uma volta ao país com muitas e boas descobertas e aconchegos.

    Vamos nos comunicando, ok?

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