sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Notícias de meu pai

Hoje meu telefone tocou cedo. Eu atendi ao pedido que me levou até o segundo andar do hospital - setor de hemodinâmica. Meu pai lá estava, numa maca, aguardando para fazer o tão temido cateterismo. No mesmo lugar, outras duas macas: senhor Edevaldo na primeira e na segunda a dona Cleusa. O senhor José Poiatto (meu pai) estava na maca do canto. Dois funcionários, o Rodrigo e um outro cujo nome não lembro, olhavam alguma coisa no computador.
Entrei, cumprimentei todos e fui conversar com meu pai. Mãos dadas com ele, palavras trocadas e então olhei ao redor: tensão no ar! Tensão gigante porque estava somada. Era a minha tensão, mais a tensão do sr. Edevaldo, mais a da dona Cleuza e a do meu pai. Acho que só os funcionários, já tão habituados com pacientes de avental verde deitados em maca aguardando cateterismo, que mantinham um certo ar de "não tenho nada com isso".

Foi então que eu levantei e perguntei: Posso contar uma história?
O Rodrigo deu de ombros. Meu pai me olhou orgulhoso e, nas duas outras macas, olhos brilhantes de sorrisos tímidos me encorajavam.
Comecei. Sinal de alguém pedindo para eu falar mais baixo. Ignorei. A história foi seguindo seu rumo próprio. Seis pares de olhos atentos acompanhavam. Ás vezes, apareciam outros pares de olhos, vindos de fora, que arriscavam um olhar furtivo. Outros apareciam e até se demoravam. Num momento da história a personagem canta "lavadeira, lavadeira, lava roupa bem lavada ô lavadeira". Em outros momentos, minha pequena e ilustre plateia participa e dá conselhos aos personagens. Finda a história e eu vejo sorrisos brotaram novamente. Lágrima em um par de olhos, também. Já não eram mais quatro desconhecidos naquela sala fria. A história contada permitiu aproximar as pessoas e suas histórias de vida. A prosa foi começando e todos conheceram um pouco da vida do outro; das famílias que esperavam, do time de futebol e puderam expressar como cada um estava sentindo a angústia de estar ali.
Rodrigo vem me avisar que preciso sair e esperar lá fora. Desejo boa sorte, aperto a mão de todos e saio. A espera é longa. Foram três longas horas até eu ouvir uma voz de cera: Acompanhante do sr. José Poiatto. Entro. Meu pai sentado. Médico se aproxima, e com um sorriso me diz: O exame foi ótimo. Pensamos que os vasos do coração estavam entupidos (SIC) mas tá tudo bem. Ótimo resultado, ele completou.

Fiquei mais um tempo com meu pai, ajudei-o com o almoço e, ao sair, pude ouvir o funcionário Rodrigo cantarolar: "Lavadeira, lavadeira..."


Ah! Meu pai teve alta hoje.

Eu desejo que meu pai tenha ainda muitas boas histórias para ouvir, viver e contar.

Eu desejo que todas as pessoas internadas em hospitais recebam o conforto e o alívio de histórias inspiradoras.

Abraços

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